quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Escola Alípio dos Santos



terça-feira, 15 de maio de 2012

Frente de casa

Filipe Rossato


   Três anos vão completar, e ainda não entendi como foste embora. no agitado fim de semana, em que fizemos malas, viagens e discursos, o mundo parou de girar por alguns instantes para que partiste dele, e, apesar da minha idade já avançada, das minhas experiências anteriores, do que quer que seja, ainda não entendi.

   Os teus olhos já não brilhavam mais, e tua força em querer expressar o carinho que tão suave um dia demonstrou encerrou minha contemplação. eu estava ali, no epicentro da dor, ainda que não a conseguisse sentir. os dias gelados passaram lentamente e provavelmente nunca mais sairão da minha memória, mais pela incompreensão do que pela dor. tu estavas indo embora, mas tantas vezes eu fui também, e foste e foram, que os olhos não poderiam sentir nada além de outro adeus.

   Para quem já deu tantos adeus, tu estavas indo embora como se vai ao terminar a vida. que outra lição tiramos desse labirinto de ciclos em que nos achamos dia após dia? que dor nova eu deveria sentir ao ver outra despedida, entre tantas maiores e mais significativas para mim? que choro deveria ter vindo, mas nunca chegou? 

   Daqui a pouco, será o terceiro ano que não estás mais aqui. e, de todas as despedidas, essa talvez tenha sido a que menos me doeu. mas, ao te rever hoje, ao relembrar as madeiras azuis da tua casa, a salinha cheia de objetos, o teu cumprimento afetuoso, as árvores da tua rua, eu sinto. que instante mágico entre mim e ti, talvez os mais distantes dentre todos, te coloca em meu caminho e em meus pensamentos dia após dia? que curiosa conexão criou-se entre nós agora que não estás mais aqui. 

   Tu foste embora, enfim, e, em meio a tanta dor, eu não chorei. para todos, a despedida derradeira da tua vida, mas para mim... daqueles dias congelantes, daquele hospital melancólico, daquela igreja dolorosa, a incompreensão que me resta não me consola e não te deixa morrer. ainda estás lá, na tua casinha, com teus olhinhos, eu é que parti. para que eu chore, é preciso que eu volte, e assim tu te vais, mas sabemos: a vida é um caminho sem volta. e, nesse trajeto, não retorno mais. 

   Então vais estar lá para sempre, na tua varanda, com teus livros e teu xadrez, teus mistérios e teus segredos. quanto a mim, seguirei por aqui, confiante, vida afora, pelos conselhos nunca recebidos de ti. nossos hemisférios não se acharam, mas é uma questão de espaço, não de tempo. vai ser engraçado, um dia nos encontraremos, eu no meu universo, tu na tua varanda. os dois que foram embora. 

   me acolherás com teus olhinhos. eu vou chorar; e tu, rir de cantinho.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Para Que Fique Para Sempre!!


Meu amigo, parceiro e, posso dizer, meu segundo pai.

Seu Aristeu Ferreira dos Santos ( seu Ariste), com você aprendi muito, mas muito mesmo.
O que devo a ti não tem preço, chama-se gratidão, admiração, respeito.

E ainda temos uma história em comum:

Primeiro foi amigaço e sócio de meu pai João da Silva Borges;
Segundo, foi amigaço e colega, por muitos anos, do meu irmão Itamiro;
Terceiro, foi meu amigaço, professor, conselheiro e parceiro.

Trabalhamos juntos por mais de 10 anos, os dois, mal-e-mal vivos, controlando a pressão com wisk e conhaque e umas cervejinhas geladas de quando em vez, leituras, cálculos, projetos, construções, regulagem de máquinas em dias de chuva, almoço nas fornalhas, alguns copos de vinho e um joguinho de trilha com milho e feijão (Sarte Viera).

De vez em quando, de bota e bombacha, pilchados a preceito. Seu Ariste mais conhecido que parteira de campanha por estes pagos de Deus, Cacique Doble, São Bépi, Barracão, Machadinho, Santo Expedito, Tupanci do Sul e arredores.

Só te peço que continues me orientando para que eu consiga transmitir teus bons conselhos, teu exemplo de humildade, sabedoria, amizade, companheirismo e, sobre tudo, bom caráter e hombridade.

Que o Patrão velho te abençoe para sempre.

Muito obrigado meu eterno parceiro. Um grande abraço do teu sempre amigo


Mauro Borges.


sábado, 18 de dezembro de 2010

A Melhor Música


Frases que duram para sempre. Já havíamos conversado um pouco, mas nenhum assunto disfarçava aquilo que todos nós, tanto eu e a Mari como o próprio pai, naquele momento, intimamente sabíamos: era chegada a hora dele partir. Fez algumas brincadeiras sobre a cachaça com cipó-mil-homens, a lida no quintal e o dia em que forças faltaram e foi socorrido por um vizinho que passava na rua. A noite se aproximava, era um anoitecer diferente. As energias que fizeram de meu pai um octogenário quase eterno, agora, aos poucos, iam lhe abandonando de mansinho. Meu Pai estava cambaleante, via-se a peleja da vida contra a morte, em alguns momentos até parecia que sobreviveria. Após um longo silêncio, perguntei-lhe se por acaso não queria ouvir alguma música, alguma daquelas suas preferidas que tínhamos ouvido no dia anterior, entre elas, Dio Come Ti Amo e Esquilador, sobre esta última, comentou na ocasião que, quando moço, gostava de tocar em seu violão. "Não, respondeu (com o fio de voz que lhe restava), vocês são a melhor música".

Desde então, toda vez que a mídia faz referência a melhor música de todos os tempos (Like a Rolling StoneBob Dylan - 1965), ou a melhor música de tal década, que mudam ao sabor dos ventos, o filme daquele entardecer roda em minha mente.  A voz quase sumida, dos últimos momentos de meu pai, sussurra a frase que nos fez sentir, a mim e a Mari, privilegiados, diante de um quadro de profunda tristeza por saber que a separação era iminente.

Mais tarde, já no leito do hospital,  pronunciaria suas derradeiras palavras: "Agradeço a todos, o Patrão Velho está me chamando." Assim era meu pai. Firme em suas decisões, severo nas abordagens com seus filhos, mas capaz de uma demonstração carinhosa tão simples, tão breve, tão sutil, como caracterizou sua relação com seus filhos. Era a sua  maneira de amar.





quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Adelar Araújo

De como um gaúcho venta rasgada descreve um presépio:

                “Fazia a modo uma ramada no alto de uns cerritos e fingindo grotas e sangões e umas reboleiras; havia esparramados uns “alimais” entre boizinhos e ovelhas de bringuedo e mais uns figurões calamistrados, de coroa, que pareciam reis e pro caso um que era negro retinto, era o mais empacholado. E, perto desses, estava a Senhora Virgem maria e o Senhor São José e, entre eles, acamado numas palhinhas de milhã e uns musgos e umas penugens, estava o menininho Jesus, ruivito e rosado, nuzinho em pêlo, pro caso como uma criancinha que não tem pecado por mostrar as vergonhinhas de seu corpo de inocente.”
                                                                   João Simões Lopes Neto

Neste novo ano
Que o minuano seja brando
Que o inverno seja amigaço
Que as idéias “samiadas”na primavera
Brotem e se esparramem que nem
Carrapichos agarrados nas lãs das
Ovelhitas que você, por vadio,
Não cuidava, quando piá.
Que a saúde não te deixe
Que o patrão lá de riba
Conserve tua carapinha tordilha.
E vê se  ensina o João Bola
A “trabalhar”com o violão
Que ele aprenda a tocar
A “Velha Tapera”dos Bertussi
Pro Tio Juca se borrá todo
Que nem terneiro mamão.
Que tua “pessegueira velha”
Prossiga nesta guerra santa
E te traga para o bom caminho
(A cabresto, cinchado até)
E que o Breno continue colorado
Guente no osso do peito
Por que charque de turuno
Não amolece na primeira fervida.

É o que deseja teu sempre amigo
João 14, a trigueira velha e a
Trigueirinha Enoema.

Um quebra costela do tamanho do
Rio Grande.

Estância da Lagos – Dezembro de 1.900

João Alberto Ferreira dos Santos


Dançando no asfalto
(Da série: aprendendo a ser louco)